DOI:

https://doi.org/10.14483/25009311.10250

Publicado:

2015-01-05

Número:

Vol. 1 Núm. 1 (2015): enero-diciembre

Sección:

Sección Central

Visual Virtual MT: relato de una pesquisa

Visual virtual mt: a research report

Autores/as

  • Ludmila Brandão
  • Larissa Menendez
  • Suzana Guimarães

Palabras clave:

Visual arts, Visual Virtual MT, digital collection, coloniality of art (en).

Palabras clave:

artes visuales, Visual Virtual MT, colección digital, colonialidad del arte (es).

Referencias

Figueiredo, Aline; Espíndola, Humberto (orgs.) (2010) . MACP: animação cultural e inventário do acervo do Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT. Entrelinhas, ISA, Instituto Socioambiental. (2004). Os Povos Indígenas frente ao direito autoral de imagem. ISA.

Jimenez, Marc. La querele de l’art contemporain. (2008). Mesnil-sur-l’Estrée: Société Nouvelle Firmin-Didot.

Lagrou, Els. (2009). Arte Indígena no Brasil. C/Arte.

Lipovetsky, Gilles; Serroy, Jean. (2015). A estetização do mundo: viver na era do capitalismo artista. Trad: Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras.

Mignolo, Walter. (2003). Histórias locais/projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Editora UFMG,.

Mignolo, Walter. Aiesthesis Decolonial. Calle 14. V. 4, No. 4. Enero-junio 2010, pp. 10-25.

Plaza, Julio. (2003). Arte e interatividade: autor-obra-recepção. ARS (São Paulo) [online]. 2003, vol.1, n.2 [cited 2015-09-08], pp. 09-29 http://dx.doi.org/10.1590/S1678-53202003000200002.

Palermo, Zulma. (2012). Mirar para compreender: artesanía e re-existencia. Otros Logos, Revista de Estudios Críticos..

Ribeiro, D. Suma Etnológica Brasileira III: (1987). Arte Índia. Petrópolis: Vozes,.

Schimitt, Jean-Claude. (2007) O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na Idade Média. Trad. José Rivair Macêdo. Bauru, SP: EDUSC, p.25-54.

Vidal, Lux. Grafismo Indígena. (1992). São Paulo: Studio Nobel/ Fapesp/ Edusp,.

Cómo citar

APA

Brandão, L., Menendez, L., y Guimarães, S. (2015). Visual Virtual MT: relato de una pesquisa. Estudios Artísticos, 1(1), 106–119. https://doi.org/10.14483/25009311.10250

ACM

[1]
Brandão, L. et al. 2015. Visual Virtual MT: relato de una pesquisa. Estudios Artísticos. 1, 1 (ene. 2015), 106–119. DOI:https://doi.org/10.14483/25009311.10250.

ACS

(1)
Brandão, L.; Menendez, L.; Guimarães, S. Visual Virtual MT: relato de una pesquisa. estud. artist. 2015, 1, 106-119.

ABNT

BRANDÃO, Ludmila; MENENDEZ, Larissa; GUIMARÃES, Suzana. Visual Virtual MT: relato de una pesquisa. Estudios Artísticos, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 106–119, 2015. DOI: 10.14483/25009311.10250. Disponível em: https://revistas.udistrital.edu.co/index.php/estart/article/view/10250. Acesso em: 19 abr. 2024.

Chicago

Brandão, Ludmila, Larissa Menendez, y Suzana Guimarães. 2015. «Visual Virtual MT: relato de una pesquisa». Estudios Artísticos 1 (1):106-19. https://doi.org/10.14483/25009311.10250.

Harvard

Brandão, L., Menendez, L. y Guimarães, S. (2015) «Visual Virtual MT: relato de una pesquisa», Estudios Artísticos, 1(1), pp. 106–119. doi: 10.14483/25009311.10250.

IEEE

[1]
L. Brandão, L. Menendez, y S. Guimarães, «Visual Virtual MT: relato de una pesquisa», estud. artist., vol. 1, n.º 1, pp. 106–119, ene. 2015.

MLA

Brandão, Ludmila, et al. «Visual Virtual MT: relato de una pesquisa». Estudios Artísticos, vol. 1, n.º 1, enero de 2015, pp. 106-19, doi:10.14483/25009311.10250.

Turabian

Brandão, Ludmila, Larissa Menendez, y Suzana Guimarães. «Visual Virtual MT: relato de una pesquisa». Estudios Artísticos 1, no. 1 (enero 5, 2015): 106–119. Accedido abril 19, 2024. https://revistas.udistrital.edu.co/index.php/estart/article/view/10250.

Vancouver

1.
Brandão L, Menendez L, Guimarães S. Visual Virtual MT: relato de una pesquisa. estud. artist. [Internet]. 5 de enero de 2015 [citado 19 de abril de 2024];1(1):106-19. Disponible en: https://revistas.udistrital.edu.co/index.php/estart/article/view/10250

Descargar cita

Visitas

12929

Dimensions


PlumX


Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.
Visual Virtual MT: relato de una pesquisa

Visual Virtual MT: relato de una pesquisa

Visual virtual MT: a research report

Visual virtual MT: un rapport de recherche

Visual virtual MT: relato de uma pesquisa

Ludmila Brandao
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Brasil
Larissa Menendez
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Suzana Guimaraes
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil

Estudios Artísticos

Universidad Distrital Francisco José de Caldas, Colombia

ISSN: 2500-6975

ISSN-e: 2500-9311

Periodicidad: Semestral

vol. 1, núm. 1, 2015

revestudiosartisticos.ud@correo.udistrital.edu.co

Recepción: 08 Mayo 2014

Aprobación: 19 Septiembre 2014



Resumen: Con el fin de contribuir a la discusión acerca de las artes visuales en la sociedad contemporánea y de los dispositivos que operan la colonialidad del arte, sus mecanismos y efectos, cuya urgente desactivación nos impone enormes retos, en este artículo se presentan los resultados de la investigación titulada: “Artes Visuales en Mato Grosso: recopilación, difusión y crítica” encargada de crear el sitio Visual Virtual MT (VVMT). El VVMT reúne producciones aestésicas visuales de artistas individuales y colectivos que operan en diferentes soportes y medios, trabajando con una variedad de materiales que configuran, actualmente, la mayor colección catalogada y digital disponible en el Estado de Mato Grosso, en Brasil.

Palabras clave: artes visuales, Visual Virtual MT, colección digital, colonialidad del arte.

Resumo: Visando contribuir com a reflexão sobre as artes visuais na contemporaneidade, sobre os dispositivos que continuam operando uma colonialidade da arte, seus mecanismos e efeitos, cuja urgente desmontagem impõe imensos desafios a todos nós é que, neste artigo, apresentamos os resultados da pesquisa intitulada “Artes Visuais em Mato Grosso: acervo, difusão e crítica” responsável pela criação do site Visual Virtual MT (VVMT). O VVMT reúne produções aestésicas visuais de artistas individuais e coletivos que operam nos mais diversos suportes, trabalhando com uma diversidade de materiais que configuram, atualmente, o maior acervo catalogado e disponibilizado digitalmente no Estado de Mato Grosso, Brasil.

Palavras-chave: Artes Visuais, Visual Virtual MT, acervo digital, colonialidade da arte.

Abstract: In order to contribute to the discussion about the visual arts in contemporary society and about the devices that operate the coloniality of art, its mechanisms and effects – whose urgent deactivation imposes enormous challenges –, this paper presents the results of the research project "Visual Arts in Mato Grosso: collection, dissemination and criticism", responsible for creating the Visual Virtual MT (VVMT) site. The VVMT gathers visual aesthesic productions from individual and collective artists working with different supports and media, which currently make up the largest catalogued and digitally available collection in the State of Mato Grosso, Brazil.

Keywords: Visual arts, Visual Virtual MT, digital collection, coloniality of art.

Résumé: Afin de contribuer à la discussion sur les arts visuels dans la société moderne et les appareils qui opèrent la colonialité de l'art, ses mécanismes et ses effets, dont la désactivation d'urgence impose d'énormes défis, on expose dans cet article les résultats de la recherche intitulée "Arts visuels dans le Mato Grosso : Compilation, diffusion et critique", responsable de la création du site Visual Virtual MT (VVMT). Le VVMT réunie des productions visuelles aesthesiques d’artistes individuels et collectifs travaillant dans de différents supports et médias, lesquelles constituent actuellement la plus grande collection cataloguée et numérique disponible dans l'État du Mato Grosso, au Brésil.

Mots clés: Arts visuels, Visual Virtual MT, collection numériqu, colonialité de l’art.

Um dos grandes desafios da atualidade é pensar os impactos da tecnologia sobre a sociedade, sobre as subjetividades e as transformações sociais decorrentes. Se, anteriormente, no Ocidente, apenas algumas instituições (industriais, educacionais) eram detentoras e produtoras do conhecimento, após o advento da internet verifica-se uma decisiva revolução nos modos como o conhecimento e a arte são produzidos e difundidos, incidindo diretamente nos processos de subjetivação. Autonomia e protagonismo individual e de pequenos grupos em termos nunca vistos são, provavelmente, os maiores benefícios sociais desse novo mundo, ainda que ele carregue consigo grandes ameaças. Na conexão global, multiplicam-se os modos de uso e apropriação da internet e, com ela, as possibilidades de experimentação de mundos. Assim, inovações acontecem quando grupos se organizam para desvendar informações sobre filmes ou programas ainda não exibidos; quando fãs criam suas histórias usando personagens prediletos de filmes e escrevem blogs em resposta a publicações comerciais; quando indígenas de diversas etnias organizam-se em páginas das redes sociais para ali postarem suas produções e percepções. Os consumidores contemporâneos não mais se limitam a consumir silenciosa e individualmente os bens simbólicos; a todo instante, e cada vez mais, extrapolam os limites da esfera comercial e pessoal reagindo publicamente, apondo suas leituras ao bem, modificando-o, replicando-o ou apenas difundindo sua experiência, no ato de interação tornado possível pelos novos dispositivos comunicacionais.

Se no mundo analógico as imagens já ocupavam um lugar de destaque, com as mídias digitais de nosso tempo, as imagens convertem-se no principal vetor de conhecimento, podendo ser compartilhadas no ambiente virtual, instantaneamente e com a maior precisão possível. Ou seja, a narrativa textual deixou de ser a fonte privilegiada de conhecimento cedendo lugar à narrativa visual e essa mudança veio acompanhada de uma transformação radical da relação entre público e obra e dos próprios processos de fruição e significação em nossa sociedade.

Plaza (2003) afirma que vivemos na era em que a relação entre público e obra é mediada pelas interfaces técnica, que a relação entre obra e público é fundamentalmente permeada pela interatividade, isto é, pela relação recíproca entre usuários e interfaces computacionais.

Mas se a imagem é sempre a imagem de alguma coisa, como fala Jean-Claude Schmitt (2007), ou está de algum modo relacionada a um contexto, é certo que a experiência cotidiana do visual demonstra que toda produção ou recepção de imagens supõe uma elaboração ativa e complexa, e que a produção de sentido é uma composição aberta e relacional entre quem faz e quem olha. Posto que o real é sempre um vir a ser ininterrupto, no qual pessoas e coisas não residem nem naquilo que vemos nem naquilo que dizemos, a linguagem visual opera como jogo, embuste que põe em questão sua própria ambiguidade.

Por outro lado, se a estetização do mundo na era do “capitalismo artista”, nas palavras de Gilles Lipovetsky (2015) avança sobre todas as esferas da vida ordinária, no próprio mundo da arte, a dimensão amplificada das possibilidades artísticas das décadas de setenta e posteriores, operada pela multiplicação dos meios e das referências, deu ensejo à construção de um hiper cenário artístico difuso, ambíguo e complexo, que não se rende a nenhuma estética predominante. Mais do que uma crise da arte (por excesso), há uma crise do pensamento sobre, da própria Estética como disciplina, como afirma Marc Jimenez (2008). O dinamismo e a segmentação do contexto estão a exigir do pensamento formas mais flexíveis para compreender o que não pode ser mais ignorado ou camuflado: a reciprocidade e a dependência das relações entre arte, cultura, sociedade, mercado e mídia. As mudanças ocorridas pela interação das imagens e vários campos do conhecimento apontam que as artes visuais, a partir daí, constitui relações cada vez maiores com a dimensão cultural, com as novas tecnologias, com os meios e as formas de visualidades geradas.

Por isso, não se pode perder de vista que ao tratarmos de produções oriundas de diferentes contextos culturais, há de imediato o desafio interposto pelo desconhecido, pela singularidade da linguagem artística que exige o domínio de outros signos; símbolos muitas vezes manipulados de modo metafórico e inacessível aos que dessa cultura não participam.

No entanto, essa incompreensão, que até pode ser legítima, rotineiramente dá ensejo à ignorância ou desprezo que lança na invisibilidade quase absoluta os artistas e obras que se situam fora dos pólos culturais mundiais e do sistema oficial das artes. No melhor dos casos, artistas e obras são incorporados a um espaço de tutela, marcado sistematicamente por uma adjetivação (ou estigma) que designa a origem do artista e nada diz sobre sua poética. “Arte popular”, “arte indígena”, “arte africana”, “naïf”, “cabocla”, entre outras, são modos de lançar nos extratos mais baixos da hierarquização da arte Ocidental, essas produções que escapam às estéticas oficiais.

Em uma análise cuidadosa, verificamos que as classificações das manifestações estéticas não-ocidentais predicadas pelas origens do produtor, ocupam sistematicamente hierarquias inferiores. Segundo Palermo (2012), nos países colonizados, a distinção, por exemplo, entre em “arte” e “artesanato”, opera uma hierarquização que lança o segundo no grau mínimo de artisticidade, exprimindo assim aquilo que Mignolo chama de “diferença colonial”: “Não a diferença cultural, mas a transformação da diferença cultural em valores e hierarquias: raciais e patriarcais, por um lado, e geopolíticas, pelo outro (2012)”.

Visando contribuir com a reflexão sobre as artes visuais na contemporaneidade, sobre os dispositivos que continuam operando uma colonialidade da arte, seus mecanismos e efeitos, cuja urgente desmontagem impõe imensos desafios a todos nós que, neste artigo, apresentamos os resultados da pesquisa intitulada “Artes Visuais em Mato Grosso: acervo, difusão e crítica”responsável pela criação do site Visual Virtual MT - http://visualvirtualmt.com.br/site/ - que reúne a produção visual contemporânea do Estado de Mato Grosso.

O projeto

No Brasil, as instituições públicas de artes vêm cumprindo, não sem dificuldades, a importante tarefa de catalogar, preservar, divulgar e ampliar seus acervos. Ainda em reduzido número no país, tais instituições são os lugares historicamente responsáveis pela preservação de parte da memória cultural nacional e seus conjuntos documentais, oferecendo suporte para a reflexão sobre práticas as mais diversas como a curatorial, educativa, científica, cultural, etc. Em Mato Grosso, e mesmo na capital, Cuiabá, é evidente a carência de iniciativas nesse sentido e a dificuldade das instituições locais. À exceção de algumas ações pontuais, como a obra MACP: animação cultural e inventário do acervo do Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT, de Aline Figueiredo e Humberto Espíndola, ainda é pouco comum a prática de catalogar, compilar e divulgar as obras dos artistas que produziram ou que ainda produzem em Cuiabá e nos demais municípios e, menos ainda, de fomentar a reflexão sobre as práticas locais e contemporâneas. No que se refere à produção visual indígena o cenário é ainda mais problemático.

O projeto de pesquisa cujo relato apresentamos aqui, foi concebido e vem sendo executado pelo Núcleo de Estudos do Contemporâneo (NEC) sob a chancela do Diretório de Grupos de Pesquisa do Brasil do CNPq e abrigado pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO/UFMT). Uma das linhas de pesquisa do NEC aborda a produção visual contemporânea na perspectiva da discussão sobre a colonialidade, como vem sendo proposto pela rede de pesquisadores conhecida como Modernidade/Colonialidade/Decolonialidade.

A pesquisa, aprovada no âmbito do programa PNPD Institucional da CAPES, foi iniciada em 2011. Nos primeiros meses do projeto, foi efetuada uma considerável investigação sobre os acervos públicos existentes, englobando o levantamento e digitalização do material catalográfico de instituições públicas e privadas. Surpreendeu-nos a quantidade significativa e variada de material documental além do amplo acervo imagético de algumas instituições, que dispunham inclusive de material digitalizado. Ainda que tenhamos constatado a existência de um grande número de obras em coleções particulares, a pesquisa priorizou as instituições públicas, optando em centrar especificamente os estudos investigativos e reflexivos a partir de 1974, ano da criação na também recém fundada Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), do Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) e do Ateliê de Arte da mesma instituição que começou a funcionar em 1981.

A pesquisa que consistiu, nos dois primeiros anos, no trabalho de localização de obras, digitalização e catalogação (que continua até hoje) entrou em sua segunda fase, quando teve início a discussão do portal a ser concebido para abrigar a produção digitalizada de obras já catalogadas no acervo e da produção acadêmica e jornalística sobre as mesmas. Desse processo resulta a concepção do Visual Virtual MT (VVMT), sua caracterização como portal que abrigaria imagens, vídeos e textos da e sobre a produção visual do Estado de Mato Grosso e sua identidade gráfica.

Em 2013, com o ingresso de mais uma pesquisadora de pós-doutorado, e em função de sua especialidade, o projeto decidiu incorporar a produção visual indígena contemporânea de Mato Grosso, o que multiplicou inúmeras vezes as perspectivas do projeto e as possibilidades do VVMT. A imensa diversidade cultural do Estado e a riqueza da produção imagética desconhecida pela maior parte da população brasileira precisava ser incorporada ao projeto.

Com o site em funcionamento na versão beta, desde 2014, a equipe, que conta com duas bolsistas de pós-doutorado e duas bolsistas de Iniciação Científica, além da coordenação, deu início à alimentação do site e, concomitantemente, à identificação de problemas em seu funcionamento para resolução técnica dos web-designers.

Atualmente, o VVMT conta com obras e Acervos Públicos digitalizados oriundos de diversas instituições como o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP-UFMT), a extinta Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso (SEC/MT), o Cedoc/Funarte, o Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC), o Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE), entre outros..

Apesar da ainda reduzida pesquisa dos Acervos Particulares, que são muitos, atualmente o site já apresenta obras digitalizadas de vários artistas da antiga Galeria Pelegrim (situada em Chapada dos Guimarães) de propriedade do artista plástico Daniel Pelegrim e também de inúmeros catálogos recebidos em doação. Parte do acervo atual é também constituído por informações documentadas em diversos suportes midiáticos, localizados na internet, como vídeos sobre vida e obra de artistas, performances, depoimentos, entrevistas; artigos em revistas online; catálogos digitais, entre outros.

Destacamos aqui o projeto transmídia “Teimosia da Imaginação” que compreende uma série de vídeos, uma exposição e um livro, sob a curadoria de Germana Monte-Mór e do crítico Rodrigo Naves, elaborada em parceria com o Instituto Tomie Ohtake. Esse projeto traz cerca de dez trabalhos referenciais e um vídeo-documentário de cada artista, entre eles, Nilson Pimenta, que atua em Cuiabá e consta do acervo do VVMT.

A metodologia empregada na execução do projeto, de um modo geral, constituiu-se dos seguintes passos: identificação, seleção da documentação, digitalização, tratamento e alimentação do site.

De início, o mapeamento de instituições, artistas, obras e documentos textuais foi realizado na internet. Para a atividade de pesquisa em documento textual e iconografiain loco, tomando por base o levantamento prévio, selecionamos a massa documental para digitalização junto a uma bibliografia de apoio com o objetivo de estruturar e alimentar o banco de dados. Fotografamos as obras e os documentos encontrados e também elaboramos os verbetes sobre as diferentes documentações.

Em relação às manifestações plásticas indígenas contemporâneas é ainda mais notória sua reduzida difusão em contraste com a diversidade de povos e de suas produções. Ainda que o reconhecimento dos povos indígenas pelo Estado brasileiro tenha sido oficializado com a Constituição de 1988, permanece desconhecido o “país pluriétnico e multicultural (...) [que] abriga um conjunto de micro sociedades as quais é necessário garantir o direito a um território próprio e a proteção de sua cultura” (ISA, 2004).

Segundo o senso de 2010 a população indígena do Brasil somava 896.917 pessoas, distribuídas em 305 etnias e falantes de 274 idiomas. Em 2008, a Lei 11645 estabeleceu a obrigatoriedade do ensino da história e das culturas indígenas e afro brasileiras nas escolas do país, com destaque para o estudo da literatura e da arte. Ainda assim, os povos e suas práticas continuam desconhecidos para a maioria da população que não tem acesso a material de difusão em quantidade e qualidade necessárias.

Há que se considerar que promover o conhecimento dos povos através da difusão de sua produção estética, considerada a potência expressiva dessa produção, é, provavelmente, o modo mais eficaz de sensibilização da sociedade para a abrir-se à compreensão, conhecimento e interação respeitosa com esses povos. O mesmo documento do ISA destaca ainda a “importância da difusão da imagem dos povos indígenas como uma forma de estabelecer uma dinâmica de circulação de informações que permite não apenas o enriquecimento do patrimônio cultural, mas também benefícios diretos ou indiretos aos povos e coletividades indígenas que se traduzem desde o reconhecimento de direitos até apoio as suas atividades tradicionais e projetos de sustentabilidade” (ISA, 2004).

No projeto, o levantamento da produção indígena se deu, inicialmente, a partir de sites de acervos como o do Museu do Índio, Instituto Socioambiental, Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, entre outros. Obras como a Suma Etnológica de Artes Indígenas, A Civilização da Palha, Dicionário do Artesanato Indígena nortearam a realização de nosso próprio mapeamento, assim como as publicações de Lux Vidal e Els Lagrou.

Para o VVMT, priorizamos a produção contemporânea coletiva e de artistas individuais que operam nos mais diversos suportes, trabalhando com uma diversidade de materiais. Nas aldeias, a primeira tarefa era apresentar o site e convidá-los a participar do projeto. A partir de então, estabeleceu-se uma dinâmica específica com cada povo de modo que as obras que passaram a compor o nosso acervo fossem, não apenas produzidos por pessoas das etnias, mas por eles registrados e escolhidos em processos coletivos.

Nos anos de 2013 e 2014, as etnias contatadas e que aceitaram participar do projeto, a saber, Umutina, Waujá, Kurâ-Bakairi, Mebengokrê Metyktyre (Kayapó) e Yudjá (Juruna) registraram e nos encaminharam as produções escolhidas para a composição do acervo. Nesse conjunto, destacam-se pinturas sobre tela, como as de Cleomar Umutina e as pinturas corporais como as Waujá, fotografadas por Kaji Waujá.

Por sua vez, os Kurâ-Bakairi, com o apoio de estudantes indígenas da UFMT, de Marcides Catulu Peruare, presidente da Associação da Aldeia Pakuera e da respectiva comunidade, um farto material sobre as diversas pinturas corporais desse povo foi elaborado e cedido para uso do projeto.

Com o apoio do Instituto Raoni e de lideranças das aldeias Kayapó (aldeia Piaraçu) e Juruna (aldeia Pakaya) obtivemos o belíssimo material sobre a pintura corporal Kayapó e sobre a cerâmica Juruna. Os registros do VVMT, sob a forma de “processos” são narrativas visuais que mostram, por exemplo, a complexidade da elaboração das pinturas corporais, desde a coleta dos materiais necessários para a produção dos pigmentos até a elaboração dos grafismos. Do mesmo modo, no caso juruna, estão registrados o processo de preparação do barro, a elaboração da modelagem, secagem, cozimento e finalmente pintura, na produção de suas peças em cerâmica. Em 2015, contamos com a inserção de obras de Amati Trumai e da cestaria do povo Awê Uptabi (Xavante), da aldeia We’derã, produzida pelas mulheres.

As maiores dificuldades que encontramos, de um modo geral, dizem respeito ao funcionamento lento e burocrático dos museus, ao não cumprimento de acordos feitos in loco e aos obstáculos quanto aos direitos de imagem. Essas dificuldades levaram-nos a decidir pelo uso exclusivamente de imagens autorizadas individualmente pelos artistas ou produzidas e autorizadas por membros das etnias que já compõem o acervo, sem nenhuma transação financeira. Entendemos que a contrapartida à participação voluntária no projeto reside na divulgação dos artistas e povos e de suas produções e na colocação desse material à disposição para a pesquisa acadêmica, como já vem ocorrendo desde o início do projeto.

Apesar da semelhança que o VVMT guarda com o formato de um museu virtual, o uso dessa categoria foi dispensado porque além das funcionalidades de um museu constituído pela reunião de um acervo de obras e de informações sobre elas e seus artistas, nosso site reúne outras categorias de documentos como textos acadêmicos e críticos, catálogos de exposições e matérias jornalísticas. Espera-se que o site, através da vasta reunião de documentos visuais e textuais, funcione como fonte para pesquisas acadêmicasvinculadasà História, à Teoria e Crítica da Arte e da Imagem, à Antropologia e à Semiótica Visual e outras disciplinas correlatas, mas também para a própria pesquisa artística, cujos procedimentos podem constituir em inovações no campo da pesquisa acadêmica, num esforço interdisciplinar ou, mais propriamente, num esforço entre saberes (científico, artístico e cosmovisões outras não-ocidentais). A facilidade de acesso a esse material abre, por conseguinte, um vasto campo de possibilidades investigativas que vão dos próprios processos criativos (as poéticas como espécie de metodologias artísticas) relacionando os elementos intrínsecos a seus processos constitutivos (técnicas, matérias e suportes) às reflexões teóricas sobre o estatuto da arte na contemporaneidade.

O Visual Virtual MT

Cerca de um ano depois do início da pesquisa, com os primeiros levantamentos, passamos a pensar e discutir concomitantemente a ideia do site, suas finalidades e funcionalidades. À medida em que o site foi ganhando visibilidade, a classificação existente do material já reunido, as nomenclaturas, os verbetes foram sendo reelaborados e adaptados. Para cada problema, uma pausa para a busca da configuração mais adequada.

Página de entrada do site (as imagens são trocadas randomicamente). Duyaraki Juruna. Pintura sobre cerâmica. Urucum com carvão. Etnia Yudjá Juruna. Aldeia Pakaya. MT.Brasil. Foto Charadu Juruna. 2014.
Página de entrada do site (as imagens são trocadas randomicamente). Duyaraki Juruna. Pintura sobre cerâmica. Urucum com carvão. Etnia Yudjá Juruna. Aldeia Pakaya. MT.Brasil. Foto Charadu Juruna. 2014.

A escolha do nome – Visual Virtual MT – e a concepção da logomarca foram fundamentais para a própria predefinição do site. O nome “arte”, ou “arte visual”, como consta no título do projeto foi o primeiro obstáculo. Essa categoria Ocidental está definitivamente marcada por concepções hegemônicas fundadas em hierarquias que precisam ser expurgadas do campo das produções “aesthésicas”, ou seja, daquelas produções materiais e não materiais que possuem a capacidade de afetar corpos outros, de produzir sensações, situações, experiências. Como diz Walter Mignolo (2010), a Estética (criação ocidental com cânones restritivos) colonizou a Aesthesis que, ao contrário da primeira, reúne todas as formas e modos possíveis conhecidos e ignorados de realização de um evento – no Ocidente, chamado de fruição estética – que não se restringe ao campo da significação (semiótico) mas e, principalmente, opera sobre as sensações (aesthésico). Ao preferirmos falar em produções visuais, ou produções aesthésicas visuais, evitamos a armadilha das diferenciações rotineiras entre “arte” e “artesanato”, as predicações como “arte naïf”, “arte primitiva”, “arte indígena”, que nada dizem sobre as poéticas das obras em questão mas funcionam depreciativamente, indicando a procedência dos criadores como uma espécie de alerta para aquilo que se vê, lembrando a distância que guarda da arte Ocidental moderna, o modelo definitivo de arte. Dessa compreensão resultou o nome do VVMT e também a decisão de não utilizar distinções para as obras segundo a categorização de seus produtores.

Outra decisão importante para a concepção do site foi o privilégio da imagem. Especialmente no caso das produções aesthésicas indígenas, à exceção de alguns trabalhos como os de Boas, Lévi-Strauss, Ribeiro, Lagrou e Gell em que abordam essas produções em seus aspectos de padrões e simetrias, específicos da expressão visual, há uma espécie de vício nas Humanidades em privilegiar a tomada etnológica à abordagem das criações em seus aspectos composicionais. As pinturas corporais, os objetos, as máscaras são raramente tratados como objetos de fruição. A eles se sobrepõem as “explicações” etnológicas; funcionam nesses casos como pretextos para falarem de outras coisas e não como meta-textos, formas, linhas, cores que, nos mais diversos e impensáveis arranjos produzem sensações, situações, experiências outras. Daí que, quando se trata de obras e processos, o privilégio é das imagens. Os textos são reduzidos ao mínimo necessário - a ficha técnica - de modo a privilegiar o encontro dos olhos com a imagem soberana. Os espaços para os textos estão garantidos em outras abas. O conceito do site se expressa assim em sua própria materialização: a imagem em primeiro e absoluto plano como veículo para a imersão.

Página de entrada do site (as imagens são trocadas randomicamente). Pintura corporal com jenipapo.  Pintura elaborada por Kokopy Kayapo. Etnia Mebengokrê Kayapó-Metuktire. Aldeia Piaraçu. MT. Brasil.  Foto: Bepprãnktire Kayapó.2014.
Página de entrada do site (as imagens são trocadas randomicamente). Pintura corporal com jenipapo. Pintura elaborada por Kokopy Kayapo. Etnia Mebengokrê Kayapó-Metuktire. Aldeia Piaraçu. MT. Brasil. Foto: Bepprãnktire Kayapó.2014.

Na definição das categorias que constariam na barra de menu, seguiu-se o critério do tipo de documento ou informação disponibilizada: Imagens, Processos, Publicações, Exposições, Vídeos. Em “Imagem”, as obras estão agrupadas pelos nomes dos artistas e por subcategorias como “salões”, “acervos”, “exposição” ou “projeto”. Os Processos, como dito acima, são narrativas visuais dos modos de fazer. Desde a produção do pigmento de urucum nas diversas etnias até as fases de uma grafitagem em muro de paisagem urbana.

Outras abas do menu referem-se às línguas (Português, Espanhol, Inglês) ainda em fase de habilitação, ao sistema de busca, e às informações sobre quem somos: “Nós”.

A informação mínima que acompanha cada imagem de obra ou de processo, configura a ficha técnica que só é revelada quando passamos o cursor ou, ainda, quando clicamos sobre o ícone de informação

A categoria Vídeos do menu reúne vídeos - a maioria na forma dos links originais (para não sobrecarregar o site) - de entrevistas com artistas e documentários variados abordando o cotidiano, as técnicas e concepções, além de debates entre pesquisadores e críticos sempre tratando de obras e artistas que compõem o acervo do VVMT.

No espaço de publicações há categorias distintas para os catálogos de exposição, as publicações acadêmicas e materiais de imprensa sobre as exposições e trajetórias dessas manifestações visuais produzidas em Mato Grosso.

Aqui, as referências bibliográficas dos documentos textuais (monografia, dissertação, tese ou artigo publicado) aparecem imediatamente e, no movimento do cursor, as palavras-chave do texto, que serão também operadores do sistema de busca.

Finalmente, o VVMT traz uma aba “Exposições” para sempre abrigar uma exposição virtual do site organizada por curadores convidados a trabalharem a partir do acervo existente.

Considerações finais

Os desafios encontrados na realização da pesquisa e da construção do Visual Virtual MT foram muitos e das mais variadas naturezas. Do ponto de vista técnico, registramos a dificuldade decorrente da nossa total inexperiência inicial para pensar, propor e atuar na produção de um dispositivo tecnológico dessa natureza. Mas o tempo e a insistência foram os principais aliados.

Do ponto de vista jurídico, segue sendo nossa a preocupação com direitos autorais e de imagem, que são ainda insuficientemente regulamentados no Brasil. Em nosso benefício, pudemos contar com a generosidade de artistas e comunidades com quem trabalhamos para a coleta dos materiais que alimentam o VVMT. Entendemos que ela decorre da percepção que tiveram da importância da difusão cultural como meio efetivo de se fazer ver e conhecer, minimizando as intermediações redutoras, por suas próprias produções.

Página de entrada em “Imagem”
Página de entrada em “Imagem”

Com o trabalho realizado e a perspectiva de continuidade com sua institucionalização na UFMT, o Visual Virtual MT pretende se constituir como um espaço difusor e mediador de cultura, pesquisa e reflexão acadêmico-crítica, incentivo e divulgação da produção visual contemporânea em Mato Grosso. Seu fácil acesso e já significativo acervo pretende tornar visível essa produção, desconhecida dos próprios habitantes deste estado, e totalmente ignorada pelo país e pelo mundo, salvo raríssimas exceções. Pretendemos que a visibilidade dessas obras irrigue as escolas deste Estado estimulando o surgimento de novos criadores, desenvolvendo o interesse pela produção visual e pelo estudo das obras existentes nos mais variados níveis de investigação: do trabalho escolar à tese de doutorado. Evidentemente esperamos também ultrapassar as fronteiras geográficas e culturais através da visibilidade das produções no mundo, nos mais diversos povos, visando contribuir com a construção do bem comum.

Página com obra selecionada (Nilson Pimenta, “Desmatamento”, 1984).
Página com obra selecionada (Nilson Pimenta, “Desmatamento”, 1984).

Referencias

Figueiredo, Aline; Espíndola, Humberto (orgs.) (2010) . MACP: animação cultural e inventário do acervo do Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT. Entrelinhas, ISA, Instituto Socioambiental. (2004). Os Povos Indígenas frente ao direito autoral de imagem. ISA.

Jimenez, Marc. La querele de l’art contemporain. (2008). Mesnil-sur-l’Estrée: Société Nouvelle Firmin-Didot.

Lagrou, Els. (2009). Arte Indígena no Brasil. C/Arte.

Lipovetsky, Gilles; Serroy, Jean. (2015). A estetização do mundo: viver na era do capitalismo artista. Trad: Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras.

Mignolo, Walter. (2003). Histórias locais/projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Editora UFMG,.

Mignolo, Walter. Aiesthesis Decolonial. Calle 14. V. 4, No. 4. Enero-junio 2010, pp. 10-25.

Plaza, Julio. (2003). Arte e interatividade: autor-obra-recepção. ARS (São Paulo) [online]. 2003, vol.1, n.2 [cited 2015-09-08], pp. 09-29 http://dx.doi.org/10.1590/S1678-53202003000200002.

Palermo, Zulma. (2012). Mirar para compreender: artesanía e re-existencia. Otros Logos, Revista de Estudios Críticos..

Ribeiro, D. Suma Etnológica Brasileira III: (1987). Arte Índia. Petrópolis: Vozes,.

Schimitt, Jean-Claude. (2007) O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na Idade Média. Trad. José Rivair Macêdo. Bauru, SP: EDUSC, p.25-54.

Vidal, Lux. Grafismo Indígena. (1992). São Paulo: Studio Nobel/ Fapesp/ Edusp,.

Notas

1 Com financiamento do Programa PNPD/CAPES desde 2011

Recibido: 8 de mayo de 2014; Aceptado: 19 de septiembre de 2014

Resumen

Con el fin de contribuir a la discusión acerca de las artes visuales en la sociedad contemporánea y de los dispositivos que operan la colonialidad del arte, sus mecanismos y efectos, cuya urgente desactivación nos impone enormes retos, en este artículo se presentan los resultados de la investigación titulada: “Artes Visuales en Mato Grosso: recopilación, difusión y crítica” encargada de crear el sitio Visual Virtual MT (VVMT). El VVMT reúne producciones aestésicas visuales de artistas individuales y colectivos que operan en diferentes soportes y medios, trabajando con una variedad de materiales que configuran, actualmente, la mayor colección catalogada y digital disponible en el Estado de Mato Grosso, en Brasil.

Palabras clave

artes visuales, Visual Virtual MT, colección digital, colonialidad del arte.

Resumo

Visando contribuir com a reflexão sobre as artes visuais na contemporaneidade, sobre os dispositivos que continuam operando uma colonialidade da arte, seus mecanismos e efeitos, cuja urgente desmontagem impõe imensos desafios a todos nós é que, neste artigo, apresentamos os resultados da pesquisa intitulada “Artes Visuais em Mato Grosso: acervo, difusão e crítica” responsável pela criação do site Visual Virtual MT (VVMT). O VVMT reúne produções aestésicas visuais de artistas individuais e coletivos que operam nos mais diversos suportes, trabalhando com uma diversidade de materiais que configuram, atualmente, o maior acervo catalogado e disponibilizado digitalmente no Estado de Mato Grosso, Brasil.

Palavras-chave

Artes Visuais, Visual Virtual MT, acervo digital, colonialidade da arte.

Abstract

In order to contribute to the discussion about the visual arts in contemporary society and about the devices that operate the coloniality of art, its mechanisms and effects – whose urgent deactivation imposes enormous challenges –, this paper presents the results of the research project "Visual Arts in Mato Grosso: collection, dissemination and criticism", responsible for creating the Visual Virtual MT (VVMT) site. The VVMT gathers visual aesthesic productions from individual and collective artists working with different supports and media, which currently make up the largest catalogued and digitally available collection in the State of Mato Grosso, Brazil.

Keywords

Visual arts, Visual Virtual MT, digital collection, coloniality of art.

Résumé

Afin de contribuer à la discussion sur les arts visuels dans la société moderne et les appareils qui opèrent la colonialité de l'art, ses mécanismes et ses effets, dont la désactivation d'urgence impose d'énormes défis, on expose dans cet article les résultats de la recherche intitulée "Arts visuels dans le Mato Grosso : Compilation, diffusion et critique", responsable de la création du site Visual Virtual MT (VVMT). Le VVMT réunie des productions visuelles aesthesiques d’artistes individuels et collectifs travaillant dans de différents supports et médias, lesquelles constituent actuellement la plus grande collection cataloguée et numérique disponible dans l'État du Mato Grosso, au Brésil.

Mots clés

Arts visuels, Visual Virtual MT, collection numériqu, colonialité de l’art.

Um dos grandes desafios da atualidade é pensar os impactos da tecnologia sobre a sociedade, sobre as subjetividades e as transformações sociais decorrentes. Se, anteriormente, no Ocidente, apenas algumas instituições (industriais, educacionais) eram detentoras e produtoras do conhecimento, após o advento da internet verifica-se uma decisiva revolução nos modos como o conhecimento e a arte são produzidos e difundidos, incidindo diretamente nos processos de subjetivação. Autonomia e protagonismo individual e de pequenos grupos em termos nunca vistos são, provavelmente, os maiores benefícios sociais desse novo mundo, ainda que ele carregue consigo grandes ameaças. Na conexão global, multiplicam-se os modos de uso e apropriação da internet e, com ela, as possibilidades de experimentação de mundos. Assim, inovações acontecem quando grupos se organizam para desvendar informações sobre filmes ou programas ainda não exibidos; quando fãs criam suas histórias usando personagens prediletos de filmes e escrevem blogs em resposta a publicações comerciais; quando indígenas de diversas etnias organizam-se em páginas das redes sociais para ali postarem suas produções e percepções. Os consumidores contemporâneos não mais se limitam a consumir silenciosa e individualmente os bens simbólicos; a todo instante, e cada vez mais, extrapolam os limites da esfera comercial e pessoal reagindo publicamente, apondo suas leituras ao bem, modificando-o, replicando-o ou apenas difundindo sua experiência, no ato de interação tornado possível pelos novos dispositivos comunicacionais.

Se no mundo analógico as imagens já ocupavam um lugar de destaque, com as mídias digitais de nosso tempo, as imagens convertem-se no principal vetor de conhecimento, podendo ser compartilhadas no ambiente virtual, instantaneamente e com a maior precisão possível. Ou seja, a narrativa textual deixou de ser a fonte privilegiada de conhecimento cedendo lugar à narrativa visual e essa mudança veio acompanhada de uma transformação radical da relação entre público e obra e dos próprios processos de fruição e significação em nossa sociedade.

Plaza (2003) afirma que vivemos na era em que a relação entre público e obra é mediada pelas interfaces técnica, que a relação entre obra e público é fundamentalmente permeada pela interatividade, isto é, pela relação recíproca entre usuários e interfaces computacionais.

Mas se a imagem é sempre a imagem de alguma coisa, como fala Jean-Claude Schmitt (2007), ou está de algum modo relacionada a um contexto, é certo que a experiência cotidiana do visual demonstra que toda produção ou recepção de imagens supõe uma elaboração ativa e complexa, e que a produção de sentido é uma composição aberta e relacional entre quem faz e quem olha. Posto que o real é sempre um vir a ser ininterrupto, no qual pessoas e coisas não residem nem naquilo que vemos nem naquilo que dizemos, a linguagem visual opera como jogo, embuste que põe em questão sua própria ambiguidade.

Por outro lado, se a estetização do mundo na era do “capitalismo artista”, nas palavras de Gilles Lipovetsky (2015) avança sobre todas as esferas da vida ordinária, no próprio mundo da arte, a dimensão amplificada das possibilidades artísticas das décadas de setenta e posteriores, operada pela multiplicação dos meios e das referências, deu ensejo à construção de um hiper cenário artístico difuso, ambíguo e complexo, que não se rende a nenhuma estética predominante. Mais do que uma crise da arte (por excesso), há uma crise do pensamento sobre, da própria Estética como disciplina, como afirma Marc Jimenez (2008). O dinamismo e a segmentação do contexto estão a exigir do pensamento formas mais flexíveis para compreender o que não pode ser mais ignorado ou camuflado: a reciprocidade e a dependência das relações entre arte, cultura, sociedade, mercado e mídia. As mudanças ocorridas pela interação das imagens e vários campos do conhecimento apontam que as artes visuais, a partir daí, constitui relações cada vez maiores com a dimensão cultural, com as novas tecnologias, com os meios e as formas de visualidades geradas.

Por isso, não se pode perder de vista que ao tratarmos de produções oriundas de diferentes contextos culturais, há de imediato o desafio interposto pelo desconhecido, pela singularidade da linguagem artística que exige o domínio de outros signos; símbolos muitas vezes manipulados de modo metafórico e inacessível aos que dessa cultura não participam.

No entanto, essa incompreensão, que até pode ser legítima, rotineiramente dá ensejo à ignorância ou desprezo que lança na invisibilidade quase absoluta os artistas e obras que se situam fora dos pólos culturais mundiais e do sistema oficial das artes. No melhor dos casos, artistas e obras são incorporados a um espaço de tutela, marcado sistematicamente por uma adjetivação (ou estigma) que designa a origem do artista e nada diz sobre sua poética. “Arte popular”, “arte indígena”, “arte africana”, “naïf”, “cabocla”, entre outras, são modos de lançar nos extratos mais baixos da hierarquização da arte Ocidental, essas produções que escapam às estéticas oficiais.

Em uma análise cuidadosa, verificamos que as classificações das manifestações estéticas não-ocidentais predicadas pelas origens do produtor, ocupam sistematicamente hierarquias inferiores. Segundo Palermo (2012), nos países colonizados, a distinção, por exemplo, entre em “arte” e “artesanato”, opera uma hierarquização que lança o segundo no grau mínimo de artisticidade, exprimindo assim aquilo que Mignolo chama de “diferença colonial”: “Não a diferença cultural, mas a transformação da diferença cultural em valores e hierarquias: raciais e patriarcais, por um lado, e geopolíticas, pelo outro (2012)”.

Visando contribuir com a reflexão sobre as artes visuais na contemporaneidade, sobre os dispositivos que continuam operando uma colonialidade da arte, seus mecanismos e efeitos, cuja urgente desmontagem impõe imensos desafios a todos nós que, neste artigo, apresentamos os resultados da pesquisa intitulada “Artes Visuais em Mato Grosso: acervo, difusão e crítica”responsável pela criação do site Visual Virtual MT - http://visualvirtualmt.com.br/site/ - que reúne a produção visual contemporânea do Estado de Mato Grosso.

O projeto

No Brasil, as instituições públicas de artes vêm cumprindo, não sem dificuldades, a importante tarefa de catalogar, preservar, divulgar e ampliar seus acervos. Ainda em reduzido número no país, tais instituições são os lugares historicamente responsáveis pela preservação de parte da memória cultural nacional e seus conjuntos documentais, oferecendo suporte para a reflexão sobre práticas as mais diversas como a curatorial, educativa, científica, cultural, etc. Em Mato Grosso, e mesmo na capital, Cuiabá, é evidente a carência de iniciativas nesse sentido e a dificuldade das instituições locais. À exceção de algumas ações pontuais, como a obra MACP: animação cultural e inventário do acervo do Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT, de Aline Figueiredo e Humberto Espíndola, ainda é pouco comum a prática de catalogar, compilar e divulgar as obras dos artistas que produziram ou que ainda produzem em Cuiabá e nos demais municípios e, menos ainda, de fomentar a reflexão sobre as práticas locais e contemporâneas. No que se refere à produção visual indígena o cenário é ainda mais problemático.

O projeto de pesquisa cujo relato apresentamos aqui, foi concebido e vem sendo executado pelo Núcleo de Estudos do Contemporâneo (NEC) sob a chancela do Diretório de Grupos de Pesquisa do Brasil do CNPq e abrigado pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO/UFMT). Uma das linhas de pesquisa do NEC aborda a produção visual contemporânea na perspectiva da discussão sobre a colonialidade, como vem sendo proposto pela rede de pesquisadores conhecida como Modernidade/Colonialidade/Decolonialidade.

A pesquisa, aprovada no âmbito do programa PNPD Institucional da CAPES, foi iniciada em 2011. Nos primeiros meses do projeto, foi efetuada uma considerável investigação sobre os acervos públicos existentes, englobando o levantamento e digitalização do material catalográfico de instituições públicas e privadas. Surpreendeu-nos a quantidade significativa e variada de material documental além do amplo acervo imagético de algumas instituições, que dispunham inclusive de material digitalizado. Ainda que tenhamos constatado a existência de um grande número de obras em coleções particulares, a pesquisa priorizou as instituições públicas, optando em centrar especificamente os estudos investigativos e reflexivos a partir de 1974, ano da criação na também recém fundada Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), do Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) e do Ateliê de Arte da mesma instituição que começou a funcionar em 1981.

A pesquisa que consistiu, nos dois primeiros anos, no trabalho de localização de obras, digitalização e catalogação (que continua até hoje) entrou em sua segunda fase, quando teve início a discussão do portal a ser concebido para abrigar a produção digitalizada de obras já catalogadas no acervo e da produção acadêmica e jornalística sobre as mesmas. Desse processo resulta a concepção do Visual Virtual MT (VVMT), sua caracterização como portal que abrigaria imagens, vídeos e textos da e sobre a produção visual do Estado de Mato Grosso e sua identidade gráfica.

Em 2013, com o ingresso de mais uma pesquisadora de pós-doutorado, e em função de sua especialidade, o projeto decidiu incorporar a produção visual indígena contemporânea de Mato Grosso, o que multiplicou inúmeras vezes as perspectivas do projeto e as possibilidades do VVMT. A imensa diversidade cultural do Estado e a riqueza da produção imagética desconhecida pela maior parte da população brasileira precisava ser incorporada ao projeto.

Com o site em funcionamento na versão beta, desde 2014, a equipe, que conta com duas bolsistas de pós-doutorado e duas bolsistas de Iniciação Científica, além da coordenação, deu início à alimentação do site e, concomitantemente, à identificação de problemas em seu funcionamento para resolução técnica dos web-designers.

Atualmente, o VVMT conta com obras e Acervos Públicos digitalizados oriundos de diversas instituições como o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP-UFMT), a extinta Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso (SEC/MT), o Cedoc/Funarte, o Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC), o Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE), entre outros..

Apesar da ainda reduzida pesquisa dos Acervos Particulares, que são muitos, atualmente o site já apresenta obras digitalizadas de vários artistas da antiga Galeria Pelegrim (situada em Chapada dos Guimarães) de propriedade do artista plástico Daniel Pelegrim e também de inúmeros catálogos recebidos em doação. Parte do acervo atual é também constituído por informações documentadas em diversos suportes midiáticos, localizados na internet, como vídeos sobre vida e obra de artistas, performances, depoimentos, entrevistas; artigos em revistas online; catálogos digitais, entre outros.

Destacamos aqui o projeto transmídia “Teimosia da Imaginação” que compreende uma série de vídeos, uma exposição e um livro, sob a curadoria de Germana Monte-Mór e do crítico Rodrigo Naves, elaborada em parceria com o Instituto Tomie Ohtake. Esse projeto traz cerca de dez trabalhos referenciais e um vídeo-documentário de cada artista, entre eles, Nilson Pimenta, que atua em Cuiabá e consta do acervo do VVMT.

A metodologia empregada na execução do projeto, de um modo geral, constituiu-se dos seguintes passos: identificação, seleção da documentação, digitalização, tratamento e alimentação do site.

De início, o mapeamento de instituições, artistas, obras e documentos textuais foi realizado na internet. Para a atividade de pesquisa em documento textual e iconografiain loco, tomando por base o levantamento prévio, selecionamos a massa documental para digitalização junto a uma bibliografia de apoio com o objetivo de estruturar e alimentar o banco de dados. Fotografamos as obras e os documentos encontrados e também elaboramos os verbetes sobre as diferentes documentações.

Em relação às manifestações plásticas indígenas contemporâneas é ainda mais notória sua reduzida difusão em contraste com a diversidade de povos e de suas produções. Ainda que o reconhecimento dos povos indígenas pelo Estado brasileiro tenha sido oficializado com a Constituição de 1988, permanece desconhecido o “país pluriétnico e multicultural (...) [que] abriga um conjunto de micro sociedades as quais é necessário garantir o direito a um território próprio e a proteção de sua cultura” (ISA, 2004).

Segundo o senso de 2010 a população indígena do Brasil somava 896.917 pessoas, distribuídas em 305 etnias e falantes de 274 idiomas. Em 2008, a Lei 11645 estabeleceu a obrigatoriedade do ensino da história e das culturas indígenas e afro brasileiras nas escolas do país, com destaque para o estudo da literatura e da arte. Ainda assim, os povos e suas práticas continuam desconhecidos para a maioria da população que não tem acesso a material de difusão em quantidade e qualidade necessárias.

Há que se considerar que promover o conhecimento dos povos através da difusão de sua produção estética, considerada a potência expressiva dessa produção, é, provavelmente, o modo mais eficaz de sensibilização da sociedade para a abrir-se à compreensão, conhecimento e interação respeitosa com esses povos. O mesmo documento do ISA destaca ainda a “importância da difusão da imagem dos povos indígenas como uma forma de estabelecer uma dinâmica de circulação de informações que permite não apenas o enriquecimento do patrimônio cultural, mas também benefícios diretos ou indiretos aos povos e coletividades indígenas que se traduzem desde o reconhecimento de direitos até apoio as suas atividades tradicionais e projetos de sustentabilidade” (ISA, 2004).

No projeto, o levantamento da produção indígena se deu, inicialmente, a partir de sites de acervos como o do Museu do Índio, Instituto Socioambiental, Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, entre outros. Obras como a Suma Etnológica de Artes Indígenas, A Civilização da Palha, Dicionário do Artesanato Indígena nortearam a realização de nosso próprio mapeamento, assim como as publicações de Lux Vidal e Els Lagrou.

Para o VVMT, priorizamos a produção contemporânea coletiva e de artistas individuais que operam nos mais diversos suportes, trabalhando com uma diversidade de materiais. Nas aldeias, a primeira tarefa era apresentar o site e convidá-los a participar do projeto. A partir de então, estabeleceu-se uma dinâmica específica com cada povo de modo que as obras que passaram a compor o nosso acervo fossem, não apenas produzidos por pessoas das etnias, mas por eles registrados e escolhidos em processos coletivos.

Nos anos de 2013 e 2014, as etnias contatadas e que aceitaram participar do projeto, a saber, Umutina, Waujá, Kurâ-Bakairi, Mebengokrê Metyktyre (Kayapó) e Yudjá (Juruna) registraram e nos encaminharam as produções escolhidas para a composição do acervo. Nesse conjunto, destacam-se pinturas sobre tela, como as de Cleomar Umutina e as pinturas corporais como as Waujá, fotografadas por Kaji Waujá.

Por sua vez, os Kurâ-Bakairi, com o apoio de estudantes indígenas da UFMT, de Marcides Catulu Peruare, presidente da Associação da Aldeia Pakuera e da respectiva comunidade, um farto material sobre as diversas pinturas corporais desse povo foi elaborado e cedido para uso do projeto.

Com o apoio do Instituto Raoni e de lideranças das aldeias Kayapó (aldeia Piaraçu) e Juruna (aldeia Pakaya) obtivemos o belíssimo material sobre a pintura corporal Kayapó e sobre a cerâmica Juruna. Os registros do VVMT, sob a forma de “processos” são narrativas visuais que mostram, por exemplo, a complexidade da elaboração das pinturas corporais, desde a coleta dos materiais necessários para a produção dos pigmentos até a elaboração dos grafismos. Do mesmo modo, no caso juruna, estão registrados o processo de preparação do barro, a elaboração da modelagem, secagem, cozimento e finalmente pintura, na produção de suas peças em cerâmica. Em 2015, contamos com a inserção de obras de Amati Trumai e da cestaria do povo Awê Uptabi (Xavante), da aldeia We’derã, produzida pelas mulheres.

As maiores dificuldades que encontramos, de um modo geral, dizem respeito ao funcionamento lento e burocrático dos museus, ao não cumprimento de acordos feitos in loco e aos obstáculos quanto aos direitos de imagem. Essas dificuldades levaram-nos a decidir pelo uso exclusivamente de imagens autorizadas individualmente pelos artistas ou produzidas e autorizadas por membros das etnias que já compõem o acervo, sem nenhuma transação financeira. Entendemos que a contrapartida à participação voluntária no projeto reside na divulgação dos artistas e povos e de suas produções e na colocação desse material à disposição para a pesquisa acadêmica, como já vem ocorrendo desde o início do projeto.

Apesar da semelhança que o VVMT guarda com o formato de um museu virtual, o uso dessa categoria foi dispensado porque além das funcionalidades de um museu constituído pela reunião de um acervo de obras e de informações sobre elas e seus artistas, nosso site reúne outras categorias de documentos como textos acadêmicos e críticos, catálogos de exposições e matérias jornalísticas. Espera-se que o site, através da vasta reunião de documentos visuais e textuais, funcione como fonte para pesquisas acadêmicasvinculadasà História, à Teoria e Crítica da Arte e da Imagem, à Antropologia e à Semiótica Visual e outras disciplinas correlatas, mas também para a própria pesquisa artística, cujos procedimentos podem constituir em inovações no campo da pesquisa acadêmica, num esforço interdisciplinar ou, mais propriamente, num esforço entre saberes (científico, artístico e cosmovisões outras não-ocidentais). A facilidade de acesso a esse material abre, por conseguinte, um vasto campo de possibilidades investigativas que vão dos próprios processos criativos (as poéticas como espécie de metodologias artísticas) relacionando os elementos intrínsecos a seus processos constitutivos (técnicas, matérias e suportes) às reflexões teóricas sobre o estatuto da arte na contemporaneidade.

O Visual Virtual MT

Cerca de um ano depois do início da pesquisa, com os primeiros levantamentos, passamos a pensar e discutir concomitantemente a ideia do site, suas finalidades e funcionalidades. À medida em que o site foi ganhando visibilidade, a classificação existente do material já reunido, as nomenclaturas, os verbetes foram sendo reelaborados e adaptados. Para cada problema, uma pausa para a busca da configuração mais adequada.

Página de entrada do site (as imagens são trocadas randomicamente). Duyaraki Juruna. Pintura sobre cerâmica. Urucum com carvão. Etnia Yudjá Juruna. Aldeia Pakaya. MT.Brasil. Foto Charadu Juruna. 2014.

Página de entrada do site (as imagens são trocadas randomicamente). Duyaraki Juruna. Pintura sobre cerâmica. Urucum com carvão. Etnia Yudjá Juruna. Aldeia Pakaya. MT.Brasil. Foto Charadu Juruna. 2014.

A escolha do nome – Visual Virtual MT – e a concepção da logomarca foram fundamentais para a própria predefinição do site. O nome “arte”, ou “arte visual”, como consta no título do projeto foi o primeiro obstáculo. Essa categoria Ocidental está definitivamente marcada por concepções hegemônicas fundadas em hierarquias que precisam ser expurgadas do campo das produções “aesthésicas”, ou seja, daquelas produções materiais e não materiais que possuem a capacidade de afetar corpos outros, de produzir sensações, situações, experiências. Como diz Walter Mignolo (2010), a Estética (criação ocidental com cânones restritivos) colonizou a Aesthesis que, ao contrário da primeira, reúne todas as formas e modos possíveis conhecidos e ignorados de realização de um evento – no Ocidente, chamado de fruição estética – que não se restringe ao campo da significação (semiótico) mas e, principalmente, opera sobre as sensações (aesthésico). Ao preferirmos falar em produções visuais, ou produções aesthésicas visuais, evitamos a armadilha das diferenciações rotineiras entre “arte” e “artesanato”, as predicações como “arte naïf”, “arte primitiva”, “arte indígena”, que nada dizem sobre as poéticas das obras em questão mas funcionam depreciativamente, indicando a procedência dos criadores como uma espécie de alerta para aquilo que se vê, lembrando a distância que guarda da arte Ocidental moderna, o modelo definitivo de arte. Dessa compreensão resultou o nome do VVMT e também a decisão de não utilizar distinções para as obras segundo a categorização de seus produtores.

Outra decisão importante para a concepção do site foi o privilégio da imagem. Especialmente no caso das produções aesthésicas indígenas, à exceção de alguns trabalhos como os de Boas, Lévi-Strauss, Ribeiro, Lagrou e Gell em que abordam essas produções em seus aspectos de padrões e simetrias, específicos da expressão visual, há uma espécie de vício nas Humanidades em privilegiar a tomada etnológica à abordagem das criações em seus aspectos composicionais. As pinturas corporais, os objetos, as máscaras são raramente tratados como objetos de fruição. A eles se sobrepõem as “explicações” etnológicas; funcionam nesses casos como pretextos para falarem de outras coisas e não como meta-textos, formas, linhas, cores que, nos mais diversos e impensáveis arranjos produzem sensações, situações, experiências outras. Daí que, quando se trata de obras e processos, o privilégio é das imagens. Os textos são reduzidos ao mínimo necessário - a ficha técnica - de modo a privilegiar o encontro dos olhos com a imagem soberana. Os espaços para os textos estão garantidos em outras abas. O conceito do site se expressa assim em sua própria materialização: a imagem em primeiro e absoluto plano como veículo para a imersão.

Página de entrada do site (as imagens são trocadas randomicamente). Pintura corporal com jenipapo.  Pintura elaborada por Kokopy Kayapo. Etnia Mebengokrê Kayapó-Metuktire. Aldeia Piaraçu. MT. Brasil.  Foto: Bepprãnktire Kayapó.2014.

Página de entrada do site (as imagens são trocadas randomicamente). Pintura corporal com jenipapo. Pintura elaborada por Kokopy Kayapo. Etnia Mebengokrê Kayapó-Metuktire. Aldeia Piaraçu. MT. Brasil. Foto: Bepprãnktire Kayapó.2014.

Na definição das categorias que constariam na barra de menu, seguiu-se o critério do tipo de documento ou informação disponibilizada: Imagens, Processos, Publicações, Exposições, Vídeos. Em “Imagem”, as obras estão agrupadas pelos nomes dos artistas e por subcategorias como “salões”, “acervos”, “exposição” ou “projeto”. Os Processos, como dito acima, são narrativas visuais dos modos de fazer. Desde a produção do pigmento de urucum nas diversas etnias até as fases de uma grafitagem em muro de paisagem urbana.

Outras abas do menu referem-se às línguas (Português, Espanhol, Inglês) ainda em fase de habilitação, ao sistema de busca, e às informações sobre quem somos: “Nós”.

A informação mínima que acompanha cada imagem de obra ou de processo, configura a ficha técnica que só é revelada quando passamos o cursor ou, ainda, quando clicamos sobre o ícone de informação

A categoria Vídeos do menu reúne vídeos - a maioria na forma dos links originais (para não sobrecarregar o site) - de entrevistas com artistas e documentários variados abordando o cotidiano, as técnicas e concepções, além de debates entre pesquisadores e críticos sempre tratando de obras e artistas que compõem o acervo do VVMT.

No espaço de publicações há categorias distintas para os catálogos de exposição, as publicações acadêmicas e materiais de imprensa sobre as exposições e trajetórias dessas manifestações visuais produzidas em Mato Grosso.

Aqui, as referências bibliográficas dos documentos textuais (monografia, dissertação, tese ou artigo publicado) aparecem imediatamente e, no movimento do cursor, as palavras-chave do texto, que serão também operadores do sistema de busca.

Finalmente, o VVMT traz uma aba “Exposições” para sempre abrigar uma exposição virtual do site organizada por curadores convidados a trabalharem a partir do acervo existente.

Considerações finais

Os desafios encontrados na realização da pesquisa e da construção do Visual Virtual MT foram muitos e das mais variadas naturezas. Do ponto de vista técnico, registramos a dificuldade decorrente da nossa total inexperiência inicial para pensar, propor e atuar na produção de um dispositivo tecnológico dessa natureza. Mas o tempo e a insistência foram os principais aliados.

Do ponto de vista jurídico, segue sendo nossa a preocupação com direitos autorais e de imagem, que são ainda insuficientemente regulamentados no Brasil. Em nosso benefício, pudemos contar com a generosidade de artistas e comunidades com quem trabalhamos para a coleta dos materiais que alimentam o VVMT. Entendemos que ela decorre da percepção que tiveram da importância da difusão cultural como meio efetivo de se fazer ver e conhecer, minimizando as intermediações redutoras, por suas próprias produções.

Página de entrada em “Imagem”

Página de entrada em “Imagem”

Com o trabalho realizado e a perspectiva de continuidade com sua institucionalização na UFMT, o Visual Virtual MT pretende se constituir como um espaço difusor e mediador de cultura, pesquisa e reflexão acadêmico-crítica, incentivo e divulgação da produção visual contemporânea em Mato Grosso. Seu fácil acesso e já significativo acervo pretende tornar visível essa produção, desconhecida dos próprios habitantes deste estado, e totalmente ignorada pelo país e pelo mundo, salvo raríssimas exceções. Pretendemos que a visibilidade dessas obras irrigue as escolas deste Estado estimulando o surgimento de novos criadores, desenvolvendo o interesse pela produção visual e pelo estudo das obras existentes nos mais variados níveis de investigação: do trabalho escolar à tese de doutorado. Evidentemente esperamos também ultrapassar as fronteiras geográficas e culturais através da visibilidade das produções no mundo, nos mais diversos povos, visando contribuir com a construção do bem comum.

Página com obra selecionada (Nilson Pimenta, “Desmatamento”, 1984).

Página com obra selecionada (Nilson Pimenta, “Desmatamento”, 1984).

Referencias

Figueiredo, Aline; Espíndola, Humberto (orgs.) (2010) . MACP: animação cultural e inventário do acervo do Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT. Entrelinhas, ISA, Instituto Socioambiental. (2004). Os Povos Indígenas frente ao direito autoral de imagem. ISA.

Jimenez, Marc. La querele de l’art contemporain. (2008). Mesnil-sur-l’Estrée: Société Nouvelle Firmin-Didot.

Lagrou, Els. (2009). Arte Indígena no Brasil. C/Arte.

Lipovetsky, Gilles; Serroy, Jean. (2015). A estetização do mundo: viver na era do capitalismo artista. Trad: Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras.

Mignolo, Walter. (2003). Histórias locais/projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Editora UFMG,.

Mignolo, Walter. Aiesthesis Decolonial. Calle 14. V. 4, No. 4. Enero-junio 2010, pp. 10-25.

Plaza, Julio. (2003). Arte e interatividade: autor-obra-recepção. ARS (São Paulo) [online]. 2003, vol.1, n.2 [cited 2015-09-08], pp. 09-29 http://dx.doi.org/10.1590/S1678-53202003000200002.

Palermo, Zulma. (2012). Mirar para compreender: artesanía e re-existencia. Otros Logos, Revista de Estudios Críticos..

Ribeiro, D. Suma Etnológica Brasileira III: (1987). Arte Índia. Petrópolis: Vozes,.

Schimitt, Jean-Claude. (2007) O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na Idade Média. Trad. José Rivair Macêdo. Bauru, SP: EDUSC, p.25-54.

Vidal, Lux. Grafismo Indígena. (1992). São Paulo: Studio Nobel/ Fapesp/ Edusp,.

Notas

Com financiamento do Programa PNPD/CAPES desde 2011
Loading...