DOI:
https://doi.org/10.14483/23464712.18943Published:
2023-11-28Regularidades Discursivas em uma Coleção Didática de Biologia: O Ensino de Genética em sua Relação “Forma-Conteúdo”
Discursive Regularities in a Didactic Collection Of Biology: the Genetics Teaching in its Relation “Form-Content”
Regularidades Discursivas en una Colección de Enseñanza de Biología: La Enseñanza de Genética en su Relación “Forma-Contenido”
Keywords:
Análise de Discurso, Ensino de Biologia, Ensino de Ciências, Livro didático (pt).Keywords:
análisis de discurso, enseñanza de biología, enseñanza de la genética, libro de texto (es).Keywords:
discourse analysis, Biology Education, genetics teaching, textbook (en).Downloads
Abstract (pt)
Como se tem discutido na pesquisa em Educação em Biologia, o Ensino de Genética é um dos mais desafiadores, não apenas devido à complexidade e aos níveis de abstração de seus conceitos, como também devido às próprias características da área, que, nos últimos anos, se destaca pelo desenvolvimento de novas tecnologias referentes às técnicas moleculares e (bio)tecnológicas. Outrossim, cabe à escola formalizar esses conhecimentos, que, muitas vezes, circulam em distintos âmbitos sociais. Pensando no livro didático como um material importante para as práticas escolares realizadas por professores e estudantes, e sendo este material, por vezes, o único disponível, pautados na Análise de Discurso de linha francesa, que tem Michel Pêcheux como um de seus precursores, e principalmente em trabalhos de Eni Orlandi, analisamos as regularidades discursivas de uma coleção didática de Biologia. Temos como objetivo compreender de que maneira os discursos de Genética são apresentados numa coleção didática de Biologia, bem como entender que efeitos de sentidos podem ser produzidos a partir da interação texto-leitor. Como resultado, apontamos para a alternância de três tipologias discursivas na produção de sentidos, as quais influenciam as formas de apresentação dos conteúdos no livro didático: o discurso cotidiano, o discurso pedagógico e o discurso científico, sendo este último o predominante. Ademais, o texto do livro didático muitas vezes apresenta características de neutralidade e objetividade científica, além de silenciamentos de questões sócio-históricas. Diante dos resultados, compreendemos que há a necessidade de um (re)pensar (sobre) o Ensino de Biologia, indo de encontro aos discursos autoritários e abrindo margens para sentidos outros.
Abstract (en)
As discussed in research within the field of Biology Education, teaching Genetics is one of the most challenging tasks. This challenge arises not only due to the complexity and the abstract nature of its concepts but also because of the evolving characteristics of the field itself, which in recent years has seen significant advancements in molecular and (bio)technological techniques. Furthermore, it is the responsibility of formal education to codify this knowledge, which often circulates in various social contexts. Viewing the textbook as a significant resource for classroom practices conducted by teachers and students, and sometimes the only available material, we applied the French school of Discourse Analysis, influenced by Michel Pêcheux and primarily by the works of Eni Orlandi, to examine the discursive regularities in a biology textbook collection. Our objective was to comprehend how Genetic discourses are presented in a biology textbook collection and to understand the potential effects of sense production from the interaction between the text and the reader. As a result, we identified the alternation of three discursive typologies in sense production, which influence the ways in which content is presented in the textbook: everyday discourse, pedagogical discourse, and scientific discourse, with the latter being predominant. Additionally, the textbook often demonstrates characteristics of scientific neutrality and objectivity, along with the omission of socio-historical issues. Based on these results, we recognize the need to rethink Biology Education, moving away from authoritarian discourses and allowing room for alternative interpretations.
Abstract (es)
Como se ha discutido en investigaciones en Educación Biológica, la Enseñanza de la Genética es una de las más desafiantes, no solo por la complejidad y niveles de abstracción de sus conceptos, sino también por las características propias del área, que en los últimos años destaca por el desarrollo de nuevas tecnologías relacionadas con técnicas moleculares y (bio)tecnológicas. Además, corresponde a la escuela formalizar estos conocimientos, que muchas veces circulan en diferentes ámbitos sociales. Pensar en el libro de texto como un material importante para las prácticas escolares de profesores y estudiantes, en las que este material es, en ocasiones, el único disponible –basado en el análisis del discurso francés, que tiene a Michel Pêcheux como uno de sus precursores, y principalmente en obras de Eni Orlandi–, analizamos las regularidades discursivas de una colección didáctica de Biología. El objetivo es comprender cómo se presentan los discursos de Genética en una colección de enseñanza de Biología, así como comprender qué efectos de significado pueden producirse a partir de la interacción texto/lector. Como resultado, señalamos la alternancia de tres tipologías discursivas en la producción de significado, que influyen en cómo se presentan los contenidos en el libro de texto: el discurso cotidiano, el discurso pedagógico y el discurso científico, siendo este último el predominante. Además, el libro de texto presenta a menudo características de neutralidad y objetividad científica que, a su vez, silencian cuestiones sociohistóricas. Ante los resultados, entendemos que es necesario (re)pensar (la) Enseñanza de la Biología, en contravía de los discursos autoritarios y con el propósito de ampliar los horizontes hacia otros significados.
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